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Cobertura: Rage Against The Machine no SWU


Resenha: Fernando Gomes


Fotos: Jorge Rosenberg



O ano é 2000, eu cursava o 1º ano do ensino médio, um colega chega até mim e, com tom de deboche, dispara: “Tá sabendo que o Rage acabou?”. Desdenhei, preferi acreditar que ele estava só querendo gastar na minha e tentei ignorar o que havia escutado. Mas, algumas horas depois confirmei: o Rage Against the Machine havia encerrado suas atividades e eu iria morrer sem ver um show da melhor banda do mundo. Fudeu!


Anos se passaram, bons projetos do Zack de La Rocha e o péssimo Audioslave, até que o festival Coachela anuncia, em 2007, o show de reunião do Rage Against the Machine e desde então a banda passa a fazer alguns shows esporádicos pelo mundo. Mais algum tempo depois, de 2009 para 2010, os boatos de “Rage no Brasil” começam a surgir. A cada vez que lia algo sobre isso sentia um misto de euforia, angústia e ansiedade. Até que a dúvida acaba e é anunciado oficialmente: Rage Against the Machine confirmado no Brasil, no festival SWU. Fudeu de novo (mas agora no melhor sentido possível)!


Data: 09 de outubro de 2010. Estou numa fazenda próxima à cidade de Itu – SP, espremido entre mais ou menos 50 mil pessoas, ouvindo os gritos “Rage! Rage! Rage!” e vejo no telão ao fundo do palco uma estrela vermelha subir e, junto com ela, sobe a minha euforia e meus pés. E então Brad Wilk, Tim Commerford, Tom Morello e Zack de La Rocha sobem ao palco e logo começam a soar os barulhos inconfundíveis da introdução de “Testify”, emendando numa sequência covarde com “Bombtrack” e “People of The Sun”. Essa dedicada por Zack aos “irmãos e irmãs do MST”, para desgosto da Globo.







Nessa primeira seqüência de músicas o empurra-empurra onde estou é pesado, alguns desavisados e desavisadas passam mal e se desesperam para sair da aglomeração, mas logo as famosas rodas de pogo se abrem, tornando o ambiente mais espaçoso e agressivo. Pra que melhor?!


Algumas músicas depois o show é parado pela primeira vez, alguém da organização avisa que, “por questões de segurança” a apresentação só continuaria se o público desse três passos para trás. Depois fiquei sabendo que o motivo foi o fato de parte das grades da pista VIP ter cedido com a pressão do público e, é claro, a tal área – à qual o RATM já havia se manifestado contra - foi invadida.


Após alguns minutos, o show retorna e a energia continuou a mesma, tanto da banda quanto do público. As pessoas cantavam todas as músicas, gritavam, interagiam com a banda, pulavam, se abraçavam, caíam e se ajudavam a levantar... aquilo era uma celebração. Milhares de pessoas que, assim como eu, esperaram mais de dez anos para ver ao vivo aquela banda que tanto marcou suas vidas. Arrepiava, literalmente, ouvir as passagens com wah-wah tão características de “Bulls on Parade”, o riff da introdução de “Know your Enemy” ou qualquer outro de Tom Morello, executado com a perfeição que lhe é inerente. O que vi por anos, em VHS’s e DVD’s, estava acontecendo ali e por vezes eu me flagrava parado, olhando para o palco com um sorriso estampado e os olhos cheios de lágrimas, com a felicidade imensa de estar sendo parte daquilo.







Durante a execução de “Township Rebellion”, o som dos PA’s falha total. O pior é que as caixas de retorno continuaram funcionando normalmente, o que fez com que a banda não percebesse o que tinha acontecido e somente alguns minutos após o final dessa música o som voltou ao normal, com um freestyle de Zack emendando com a fúria de “Bullet in The Head”. Muito bom ver a banda mostrando imensa satisfação em tocar no Brasil. Confesso que nunca vi Zack tão sorridente no palco, assim como os demais integrantes transpareciam estar bem admirados com a reação do público brasileiro. E retribuíram com mais uma seqüência nervosa: “Guerrilla Radio”, “Sleep Now in the Fire” e encerrando com a desesperada “Wake Up” antes do bis.


Alguns poucos minutos de ansiedade e entra o som de, salvo engano, um hino socialista que antecedeu a volta explosiva com “Freedom” e toda sua raiva que nos lembra em dois momentos: “your anger is a gift!” Para encerrar essa apresentação histórica, como não podia deixar de ser, o clássico “Killing in the Name”, que acabou sendo um dos muitos pontos altos do show, fazendo com que o público ignorasse qualquer cansaço e os quatro integrantes da banda se despedissem do palco com aquela satisfação à qual já me referi, deixando um gosto de “podiam tocar um pouco mais”.


Sem dúvidas, de longe o melhor show da minha vida e pelos comentários que tenho lido, muitos também compartilham dessa opinião. A energia do Rage Against the Machine no palco é incomparável e muito difícil de descrever fielmente.





Site: http://www.ratm.com

Comentários

LHINDEZA DE RESENHA!

Me senti no show, suado, cansado, dolorido e querendo mais. Uma coisa, digamos, pra fazer inveja a quem foi e pra quem escreve resenha! hahaha

énois
Pêagá!
Dill disse…
Porra, Fernando.. Fiquei com inveja.. Assisti pelo Multishow e me senti meio angustiado por não poder estar lá.. Ainda deu uma raiva do caralho quando interromperam a transmissão. Mas o show foi histórico mesmo, bom demais. Os melhores do SWU pra mim foram eles (Rage) e o Queens Of The Stone Age.. O rage pela energia do show e a segunda pela execução da banda ao vivo, perfeita demais!

Melhor resenha da história do blog hahahahahaha.. vai ficar marcada!
Anônimo disse…
Muito boa resenha, cara! A riqueza de detalhes e a precisão do relato do clima fizeram com que eu me sentisse um pouquinho lá. Muito triste por não ter ido. RATM, sem dúvidas, está na lista das melhores bandas do mundo. Tenho certeza que vc escreveria um livro sobre esse show e, mesmo assim, não conseguiria contar tudo que sentiu. Feliz por você. ;)
Eduardo disse…
Pêagá: Com certeza Fernandinho fez todos que amam o Rage e não puderam ir mais felizes.

Dill: Disse tudo agora: "Melhor resenha da história do blog hahahahahaha.. vai ficar marcada!" E o show do Pixies também foi legal, isso é pra quem gosta da banda...pra quem não gosta tanto deve ter achado um saco.

Neila: Boa idéia!!! Aê Fernando escrever um livro, patrocinio Tomanacara! Expandir os negócios da família.

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